Desusa-se pensar. Já não é de hoje a ideia de que os idealismos pertencem à juventude, que a vida merece que nos absorvamos nas suas tarefas diárias, e de que o pensador é um inútil, ou um privilegiado, ou as duas coisas.
Desusa-se errar, e sinto em quem se distrai a pensar esse medo. Das infinitas religiões, das novas eruditas filosofias, da adoração pop, dos tantos pacotes de lifestyle, quem sou eu para pensar sem que me reduzam à minha insignificância com uma frase de efeito? E porquê afinal embarcar em conversas sem fim?
Ademais como já disse alguém, os profetas, os pensadores, esses, matamo-los, talvez porque afinal, é aos mártires que adoramos. Portanto, se queremos ser levados a sério, será talvez bom que choquemos o suficiente para que nos deixemos matar.
Mas isto não é, acho, razão para que deixemos de pensar.
Este não é com certeza um assunto novo. Não tenho dúvida de que desde há muito alguém olha em redor para se aperceber que nos esquecemos de olhar para nós, parte de um todo que se recusa a pensar. Não tenho dúvida que há muito nos perguntamos sobre o sentido das coisas sem sentido. E da nossa incapacidade de as mudar.
Mas o que me assusta é a ideia de poder perder o valor desta coisa inútil que é concentrarmo-nos na grandeza, na nossa fulcral importância no sentido das coisas, do nosso papel no sentido das coisas sem sentido. E na nossa incapacidade de mudar.
Já me citaram que “as frases que vão salvar a humanidade já estão todas escritas”. A resistência está então na acção. Mas se todos abertamente a desejamos, porque castigamos a mudança? Favorecemos o estado das coisas e fazemos vénias ao poder, ao poder instituído, às verdades. Personificados, desempenhados pelos personagens que menos interesse terão na mudança. Aproveitamos para rir de quem não sabe as coisas que porque sim.
Invejo os símbolos do poder, e entretenho-me absorvido no quotidiano, imerso em projecções materiais do meu sucesso e do meu afecto, sem saber onde está a verdade, sempre sujeito a “eles” e a uma matriz que me recuso a tentar compreender. Olhamos uns para os outros e pensamos: “porquê, todos eles levando a sua vida, sem se perguntarem porquê”. Porque somos ignorantes, pequenos, e porque o sentido das coisas se tornou erudito, reservado e indecifrável.
Nós não somos ignorantes ou pequenos. Os génios estão encerrados na solidão do génio, os poderosos na luta do poder, os ricos nas exigências da riqueza, os pobres na imposição exasperante da sobrevivência.
Somos todos ignorantes e pequenos. Tão incapazes de viver o papel deste dia como de ler a nossa importância neste dia para o caminhar da era.
Todos ignorantes, pouco importantes e pequenos.
A não ser quando nos enganamos, quando nos sujeitamos a tropeçar no escuro a tactear um caminho.
O conhecimento é a nossa única via para o domínio do nosso destino. Omnipresença, omnipotência, eternidade, estão-nos vedadas. Mas a ciência é uma árvore viçosa. Saber pode ser tão simples como atentar, ou complexo como adoecer.
Por tudo isto espero que possamos esquecer as batas brancas dos cientistas, a gargalhada dos colegas de escola quando nos enganávamos, e pensar. Pensar o que erudito não pode, ou o que o cientista não pensa, por não ser eu, ou por não estar aqui. E tactear o caminho.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
...
Estranho isto, que me persegue,
que procuro.
Que começo por eleger distante,
tanto quanto presente, importante.
Que me guia a acção,
e que se perguntares, e é?,
te direi que não.
Mas que logo está sempre
e com todos, e como,
tanto,
como ao que se chama Deus.
Que se me afigura estar,
só quando não o encontro.
Faltar-me quando mais está,
perseguir-me e a fugir, de uma contradição,
de que tantos já tanto disseram,
dizendo-o grande, e melhor que eu.
Pois que existe e deixa de ser,
o que era ontem, para crescer,
e logo deixar de ter sido,
como o pensámos saber
- porque era ora outro que agora.
Que para tantos é tão premente,
para outros inexistente,
e sem deixar de ser o mesmo,
real ou não, presente.
Estranho isto que me persegue,
que eu procuro.
Que se me oferece em dádivas,
sem se mostrar,
e logo me despe, do que eu tiver,
para se fazer ver.
que engrandece, me agarra,
me berra de dentro, me humilha,
e me proíbe de chorar.
Como é odioso o amar.
que procuro.
Que começo por eleger distante,
tanto quanto presente, importante.
Que me guia a acção,
e que se perguntares, e é?,
te direi que não.
Mas que logo está sempre
e com todos, e como,
tanto,
como ao que se chama Deus.
Que se me afigura estar,
só quando não o encontro.
Faltar-me quando mais está,
perseguir-me e a fugir, de uma contradição,
de que tantos já tanto disseram,
dizendo-o grande, e melhor que eu.
Pois que existe e deixa de ser,
o que era ontem, para crescer,
e logo deixar de ter sido,
como o pensámos saber
- porque era ora outro que agora.
Que para tantos é tão premente,
para outros inexistente,
e sem deixar de ser o mesmo,
real ou não, presente.
Estranho isto que me persegue,
que eu procuro.
Que se me oferece em dádivas,
sem se mostrar,
e logo me despe, do que eu tiver,
para se fazer ver.
que engrandece, me agarra,
me berra de dentro, me humilha,
e me proíbe de chorar.
Como é odioso o amar.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Era um daqueles velhinhos que às vezes vemos passar. Que outras nos barram o caminho, só por caminharem, porque o passeio não contava que ele aparecesse ali. Fiquei a olhar para ele. Na calma dele, ao caminhar, havia tanta impaciência como revolta ou dor - Nada, não era disso que se tratava. Caminhava devagar porque, simplesmente, era assim que caminhava – se não fosse assim… - bem, não caminharia de todo. A cada passo seu apertava-se-me o coração. Desesperei enquanto atravessava a rua, pensei que a qualquer momento o sinal abria e um condutor desavisado dos velhinhos se deixava atropelá-lo. Não abriu. Deve ser o semáforo mais lento de Lisboa. Acho que também é o único onde aquele senhor consegue atravessar a rua. Quando chegou à beira da estrada, juro que admirei o senhor. Parou frente ao passeio, um daqueles passeios baixinhos, sabes? Minto, não é dos baixinhos, é daqueles das zonas muito antigas, muito caminhadas das cidades muito antigas. Que foi abatendo, abatendo, sob os pés dos passantes, até já não ter lancil. Daqueles que subimos de carro sem abrandar e olhamos para trás para ter certeza que já estamos em cima do passeio. Bem, ele parou em frente ao lancil como quem estaca depois de uma caminhada e avalia uma serra que vai subir nas próximas dez horas da viagem. Depois, com uma calma que montanhista nenhum tem a enfrentar um obstáculo daquele calibre, ergueu o pé esquerdo. O pé esquerdo bateu no topo do tal inexistente lancil. Bateu mesmo, ali no lancil que não existia. Ele pousou o pé, reergeu-o, sem uma careta de esforço que não a que trazia desde que o vira dobrar a esquina, vinte minutos atrás, cinquenta metros antes, e momentos depois, num movimento irreal, estava em cima do passeio. Descansou por um momento com olhar cravado no chão. O mesmo olhar, cravado no chão, uns metros à sua frente, que trazia desde que eu o conhecera, há umas linhas atrás. Era o olhar de alguém para quem o corpo não estava, o olhar que o defendia da indiferença que passava ao seu lado, apitava, acelerava, bebia café ou tirava fotografias aos eléctricos. Uma cidade de indiferença à sua volta, e para onde iria o senhor? Dez minutos, poucos metros à frente, seiscentos passos e dois jovens desequilibrados na sua corrida depois, sei.
Uma porta abre-se, uma criança de seis anos dispara e salta-lhe aos braços, Avô! E de repente, ele é robusto que baste para suportar o peso de todo aquele amor. Que homem incrível, que corpo, que força. Incrível.
Uma porta abre-se, uma criança de seis anos dispara e salta-lhe aos braços, Avô! E de repente, ele é robusto que baste para suportar o peso de todo aquele amor. Que homem incrível, que corpo, que força. Incrível.
terça-feira, 22 de julho de 2008
Cheta
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Se não fosse o dinheiro, tínhamos que recusar comida e água às pessoas na cara delas.
Seria mais ou menos certo?
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Se não fosse o dinheiro, tínhamos que recusar comida e água às pessoas na cara delas.
Seria mais ou menos certo?
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quinta-feira, 10 de julho de 2008
Ò Tágides e assim.
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Pensei que os Blogs iam ser uma coisa muita grande.
Ainda estou à espera do Blog do Ghandi XXI. Mas, também é verdade, sempre fui um bocado parvo.
Era o Blog do ano. E depois toda a gente lia o livro. E depois já não tinha piada porque era vulgar. Quem sabe se fritavam mais batatas e peixe na India hoje em dia.
Como essas coisas não vão acontecer aqui, mas também por me ficar tão Português expressar aqui uma intenção gigante, coitadinha, também ela perdida aí debaixo de uma falta de oportunidades, ajuda, apoios do estado e afins, cá fica ela, só assim numa de ai se eu pudesse:
:: Hei-de lembrar-me de uma coisa muita gira para pôr no meu Blog. ::
Ah, para ti que estás a pensar isso mesmo, eu sei que não passa pela cabeça de ninguém pensar que eventualmente um dia porventura alguém, em especial um português, teria a mais ténua hipótese de vislumbrar uma leve possibilidade de quiçá esboçar uma sombra do que viria a ser uma débil aproximação a uma ideia comparável à imensa sabedoria encerrada na primeira sílaba de um peido do grande Homem e humanista que foi Ghandi.
Mas também não é razão para não tentar, caraças!
Afinal, quando Camões pediu ajuda às Tágides, sempre foi mais inteligente que pedir ajuda ao governo. E há quem diga que resultou.
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Pensei que os Blogs iam ser uma coisa muita grande.
Ainda estou à espera do Blog do Ghandi XXI. Mas, também é verdade, sempre fui um bocado parvo.
Era o Blog do ano. E depois toda a gente lia o livro. E depois já não tinha piada porque era vulgar. Quem sabe se fritavam mais batatas e peixe na India hoje em dia.
Como essas coisas não vão acontecer aqui, mas também por me ficar tão Português expressar aqui uma intenção gigante, coitadinha, também ela perdida aí debaixo de uma falta de oportunidades, ajuda, apoios do estado e afins, cá fica ela, só assim numa de ai se eu pudesse:
:: Hei-de lembrar-me de uma coisa muita gira para pôr no meu Blog. ::
Ah, para ti que estás a pensar isso mesmo, eu sei que não passa pela cabeça de ninguém pensar que eventualmente um dia porventura alguém, em especial um português, teria a mais ténua hipótese de vislumbrar uma leve possibilidade de quiçá esboçar uma sombra do que viria a ser uma débil aproximação a uma ideia comparável à imensa sabedoria encerrada na primeira sílaba de um peido do grande Homem e humanista que foi Ghandi.
Mas também não é razão para não tentar, caraças!
Afinal, quando Camões pediu ajuda às Tágides, sempre foi mais inteligente que pedir ajuda ao governo. E há quem diga que resultou.
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